Resumo: Por que a camarilha do PC cubano esconde a morte clínica de Castro? Por não saber precisamente o que fazer e por ordens do próprio ditador.
Fidel Castro está clinicamente morto. Considerado o mais velho tirano da América Latina, desde julho de 2001 (há mais de cinco anos, portanto) quando, durante um dos seus enfadonhos discursos, teve breve desmaio, boa parte do mundo desconfiou que ele estava indo pro beleléu. Em outubro de 2004, durante ato público na província de Santa Clara, depois de desabar de um estrado diante de câmeras de televisão, Fidel fraturou perna e braço passando a se locomover em cadeiras de rodas.
No final de 2005, especialista da agência americana de inteligência, CIA, ao examinar inúmeras imagens de Fidel disse que ele sofria do mal de Parkinson, doença degenerescente cuja característica externa é o tremor de mãos. Para contestar a CIA, fingindo indignação, o tirano fez o que mais gostava: mentir. Assim, numa aula inaugural da Universidade de Havana, acusou o imperialismo ianque de querer matá-lo antes do tempo: “Eu me sinto melhor do que nunca!”
Não era bem assim e a CIA tinha razão: em meados de 2006, depois de participar de reunião do Mercosul em Córdoba, Argentina, Fidel anunciou que ia fazer cirurgia para estancar uma hemorragia no intestino, em conseqüência do “stress” da viagem. Como previsto, Castro, em 31 de julho, passou o reinado ao irmão (alcoólatra) Raúl e não mais apareceu em público. Ou melhor: fez duas aparições na TV, em outubro, uma delas, já esquálido, ao lado do herdeiro Hugo Chávez.
A camarilha do PC cubano, alegando “recomendação médica”, adiou para 2 de dezembro as comemorações dos seus 80 anos (e os 50 anos da chegada do iate Granma a Cuba), que deveria ser festejado a 13 de agosto, data em que Fidel nasceu. Ainda assim, ele não compareceu às solenidades anunciadas. E também não compareceu, em Havana, à Cúpula do Movimento dos Países Não-alinhados, um aríete ideológico usado para atacar, desde sempre, os EUA.
Como em geral ocorre com todo egocrata comunista, o entorno do poder tratou de esconder a verdade: Fidel está “clinicamente morto” desde quarta-feira, 20, dez dias após a morte de outro ditador, mais brando, o General Pinochet. Antes, o jornal britânico The Independent, publicou que ele sofria de câncer terminal (tumor no estomago) e não emplacaria o Natal (acertou na mosca). Em seguida, um agente da CIA, John Negroponte, garantiu que sua morte era questão de mês. Por sua vez, o noticiário informava que Chávez tinha recebido carta de Fidel felicitando-o pela reeleição – coisa, no entanto, feita em papel datilografado e não por manuscrito, como habitualmente fazia o tirano.
No entremeio, em entrevista concedida ao Los Angeles Times, Alina Revuelta, filha de Fidel residente nos EUA junto a dois milhões de exilados cubanos, declarou que ele viveu os dias de pré-agonia orando com fervor ao lado de padres jesuítas. Castro teria participado de sessões de magia negra, trazendo do Haiti um feiticeiro do “vodu”, culto parecido com o nosso conhecidíssimo candomblé. De fato, “El Caballo” não queria entregar os pontos.
Por que a camarilha do PC cubano esconde a morte clínica de Castro? Por dois motivos: primeiro, por não saber precisamente o que fazer, visto que facções dentro do governo se dividem entre abrir um pouco ou fechar ainda mais o regime policial vigente. Na prática, a ilha nunca esteve tão controlada com exército, agentes da DGI (Dirécion General de Inteligência) e a polícia fechando o cerco sobre a população que, há décadas, mantém culto obrigatório ao Deus-tirano. Como agirá o povo de Cuba depois de anunciada oficialmente a morte de Castro? Ficará inerte? Irá se insurgir? A ilha-cárcere vai tolerar mais décadas de fome e miséria? (Em particular, desconfio que sim).
O segundo motivo diz respeito à própria vontade do ditador. Antes da morte clínica, Fidel teria recomendado ao irmão Raúl e círculos do poder que mantivessem sua imagem ligada ao mito de El Cid, o Campeador, cavaleiro espanhol que ganhou batalha depois de morto e com o qual desejava ser identificado. A idéia básica é sustentar que “El Comandante vuelta”. E o esquema armado pelo tirano funciona bem: conseguiu até lograr uma delegação parlamentar (democrata) americana que saiu de Cuba sem vê-lo, certa de que o morto-vivo vai reassumir o seu papel de Líder Máximo.
Em Recordações da Casa dos Mortos, Dostoievski, o escritor que mergulhou nos recônditos da alma humana, sagrou em letra de forma que a tirania - o ato de governar pela opressão - é um hábito: “Ela tem a propriedade de se desenvolver, e se dilata a tal ponto que acaba virando doença”. Fidel Castro, basta examinar, foi o exemplo perfeito do doente sanguinário que, no propósito de “salvar” Cuba da “exploração ianque”, levou o povo cubano ao espaço contínuo da fome, repressão e horror, mantendo-se no poder pelo jugo sinistro dos expurgos, fuzilamentos em massa e prisões nos campos de concentração. Ele foi o responsável direto pelo desaparecimento, tortura e morte de mais de 50 mil pessoas, como registra, inquestionável, o Livro Negro do Comunismo, de Stéphane Courtois (Bertrand do Brasil, Rio, 1999).
Devo acrescentar ainda que não escrevo por ouvir dizer. Estive duas vezes na ilha-cárcere e vi de perto como funciona o regime totalitário articulado pela vontade de Castro e o aparato ideológico do Partido Comunista, impondo às massas uma vida de indigência, em que o mínimo - por exemplo, o simples direito de ir e vir - é tido como crime hediondo.
Para Fidel Castro, o tirano, só um milagre. Que a terra lhe seja pesada.
PS – Este artigo deveria ser publicado quando a camarilha do PC cubano enterrasse de vez o corpo do ditador. Mas antecipo o obituário certo de que vai demorar meses para que a cúpula cubana, na sua estratégia de explorar o cadáver, considere Fidel Castro clinicamente morto.
PS 2 – Alguns leitores, que os tenho, pedem para que aponte uma tradução de Os Demônios, em português, digna de boa leitura. No meu entender, a mais densa é a de A. Augusto dos Santos (feita a partir do francês, inglês e espanhol, para a Editora Progredior, do Porto, a ser encontrada nos sebos). Mas a tradução de Natália Nunes e Oscar Mendes, para Aguilar (Rio) é correta. (A de Rachel de Queiroz, vítima do comunismo, curiosamente, não foi bem sucedida).
O que é desaconselhável mesmo é a tradução de Paulo Bezerra, pelos motivos anteriormente expostos.
Matéria extraída na íntegra:
A morte de Fidel por Ipojuca Pontes em 26 de dezembro de 2006 - © 2006 MidiaSemMascara.org
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“Qual o país mais próximo do inferno?”
- “Cuba”.
- “Não, o Haiti. Cuba é
o inferno”
(Humor cubano)
Fidel Castro está clinicamente morto. Considerado o mais velho tirano da América Latina, desde julho de 2001 (há mais de cinco anos, portanto) quando, durante um dos seus enfadonhos discursos, teve breve desmaio, boa parte do mundo desconfiou que ele estava indo pro beleléu. Em outubro de 2004, durante ato público na província de Santa Clara, depois de desabar de um estrado diante de câmeras de televisão, Fidel fraturou perna e braço passando a se locomover em cadeiras de rodas.
No final de 2005, especialista da agência americana de inteligência, CIA, ao examinar inúmeras imagens de Fidel disse que ele sofria do mal de Parkinson, doença degenerescente cuja característica externa é o tremor de mãos. Para contestar a CIA, fingindo indignação, o tirano fez o que mais gostava: mentir. Assim, numa aula inaugural da Universidade de Havana, acusou o imperialismo ianque de querer matá-lo antes do tempo: “Eu me sinto melhor do que nunca!”
Não era bem assim e a CIA tinha razão: em meados de 2006, depois de participar de reunião do Mercosul em Córdoba, Argentina, Fidel anunciou que ia fazer cirurgia para estancar uma hemorragia no intestino, em conseqüência do “stress” da viagem. Como previsto, Castro, em 31 de julho, passou o reinado ao irmão (alcoólatra) Raúl e não mais apareceu em público. Ou melhor: fez duas aparições na TV, em outubro, uma delas, já esquálido, ao lado do herdeiro Hugo Chávez.
A camarilha do PC cubano, alegando “recomendação médica”, adiou para 2 de dezembro as comemorações dos seus 80 anos (e os 50 anos da chegada do iate Granma a Cuba), que deveria ser festejado a 13 de agosto, data em que Fidel nasceu. Ainda assim, ele não compareceu às solenidades anunciadas. E também não compareceu, em Havana, à Cúpula do Movimento dos Países Não-alinhados, um aríete ideológico usado para atacar, desde sempre, os EUA.
Como em geral ocorre com todo egocrata comunista, o entorno do poder tratou de esconder a verdade: Fidel está “clinicamente morto” desde quarta-feira, 20, dez dias após a morte de outro ditador, mais brando, o General Pinochet. Antes, o jornal britânico The Independent, publicou que ele sofria de câncer terminal (tumor no estomago) e não emplacaria o Natal (acertou na mosca). Em seguida, um agente da CIA, John Negroponte, garantiu que sua morte era questão de mês. Por sua vez, o noticiário informava que Chávez tinha recebido carta de Fidel felicitando-o pela reeleição – coisa, no entanto, feita em papel datilografado e não por manuscrito, como habitualmente fazia o tirano.
No entremeio, em entrevista concedida ao Los Angeles Times, Alina Revuelta, filha de Fidel residente nos EUA junto a dois milhões de exilados cubanos, declarou que ele viveu os dias de pré-agonia orando com fervor ao lado de padres jesuítas. Castro teria participado de sessões de magia negra, trazendo do Haiti um feiticeiro do “vodu”, culto parecido com o nosso conhecidíssimo candomblé. De fato, “El Caballo” não queria entregar os pontos.
Por que a camarilha do PC cubano esconde a morte clínica de Castro? Por dois motivos: primeiro, por não saber precisamente o que fazer, visto que facções dentro do governo se dividem entre abrir um pouco ou fechar ainda mais o regime policial vigente. Na prática, a ilha nunca esteve tão controlada com exército, agentes da DGI (Dirécion General de Inteligência) e a polícia fechando o cerco sobre a população que, há décadas, mantém culto obrigatório ao Deus-tirano. Como agirá o povo de Cuba depois de anunciada oficialmente a morte de Castro? Ficará inerte? Irá se insurgir? A ilha-cárcere vai tolerar mais décadas de fome e miséria? (Em particular, desconfio que sim).
O segundo motivo diz respeito à própria vontade do ditador. Antes da morte clínica, Fidel teria recomendado ao irmão Raúl e círculos do poder que mantivessem sua imagem ligada ao mito de El Cid, o Campeador, cavaleiro espanhol que ganhou batalha depois de morto e com o qual desejava ser identificado. A idéia básica é sustentar que “El Comandante vuelta”. E o esquema armado pelo tirano funciona bem: conseguiu até lograr uma delegação parlamentar (democrata) americana que saiu de Cuba sem vê-lo, certa de que o morto-vivo vai reassumir o seu papel de Líder Máximo.
Em Recordações da Casa dos Mortos, Dostoievski, o escritor que mergulhou nos recônditos da alma humana, sagrou em letra de forma que a tirania - o ato de governar pela opressão - é um hábito: “Ela tem a propriedade de se desenvolver, e se dilata a tal ponto que acaba virando doença”. Fidel Castro, basta examinar, foi o exemplo perfeito do doente sanguinário que, no propósito de “salvar” Cuba da “exploração ianque”, levou o povo cubano ao espaço contínuo da fome, repressão e horror, mantendo-se no poder pelo jugo sinistro dos expurgos, fuzilamentos em massa e prisões nos campos de concentração. Ele foi o responsável direto pelo desaparecimento, tortura e morte de mais de 50 mil pessoas, como registra, inquestionável, o Livro Negro do Comunismo, de Stéphane Courtois (Bertrand do Brasil, Rio, 1999).
Devo acrescentar ainda que não escrevo por ouvir dizer. Estive duas vezes na ilha-cárcere e vi de perto como funciona o regime totalitário articulado pela vontade de Castro e o aparato ideológico do Partido Comunista, impondo às massas uma vida de indigência, em que o mínimo - por exemplo, o simples direito de ir e vir - é tido como crime hediondo.
Para Fidel Castro, o tirano, só um milagre. Que a terra lhe seja pesada.
PS – Este artigo deveria ser publicado quando a camarilha do PC cubano enterrasse de vez o corpo do ditador. Mas antecipo o obituário certo de que vai demorar meses para que a cúpula cubana, na sua estratégia de explorar o cadáver, considere Fidel Castro clinicamente morto.
PS 2 – Alguns leitores, que os tenho, pedem para que aponte uma tradução de Os Demônios, em português, digna de boa leitura. No meu entender, a mais densa é a de A. Augusto dos Santos (feita a partir do francês, inglês e espanhol, para a Editora Progredior, do Porto, a ser encontrada nos sebos). Mas a tradução de Natália Nunes e Oscar Mendes, para Aguilar (Rio) é correta. (A de Rachel de Queiroz, vítima do comunismo, curiosamente, não foi bem sucedida).
O que é desaconselhável mesmo é a tradução de Paulo Bezerra, pelos motivos anteriormente expostos.
Matéria extraída na íntegra:
A morte de Fidel por Ipojuca Pontes em 26 de dezembro de 2006 - © 2006 MidiaSemMascara.org
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