Interessante Matéria Sobre a Vida Cristã Sacerdotal
Joel Vieira da Silva mora em Florianópolis há 16 anos. Até pouco tempo jogava bola toda semana, com os amigos. De vez em quando, pega uma praia no final de semana e agora, com o nascimento da primeira neta, parece não faltar mais nada. Em 54 anos de vida já morou no Mato Grosso, em São Paulo e no Paraná. Sua segunda-feira começa com um sonho de vários trabalhadores: folga. Isso porque no dia anterior trabalhou até às 22h. Joel é pastor da 1ª Igreja Presbiteriana de Florianópolis, de denominação cristã protestante.
Sua rotina é basicamente a mesma de milhares de outros pastores presbiterianos. Dedica uma parte de seu dia ao estudo da Bíblia. Nas tardes de terça a quinta, tem expediente na igreja, atendendo àqueles que o procuram para aconselhamento. Às sextas visita idosos e enfermos da comunidade. Sábado é dia de fazer casamentos e participar de eventos dos diversos grupos da igreja. A semana termina no domingo com os três cultos liderados pelo Pastor Joel.
Pastores presbiterianos
Como pastor presbiteriano, Joel teve que passar por um seminário específico, mas nos moldes dos que os os padres católicos frequentam. Segundo as últimas estatísticas da Igreja Presbiteriana do Brasil, em 2003, havia 3.162 pastores para 2.304 igrejas, um cenário tão difícil quanto o mercado de trabalho no Brasil. O "processo de seleção" é mais difícil do que em muita multinacional com seus programas de trainee. Se algum membro da igreja presbiteriana tem a intenção de ser pastor, ele deve comunicar a intenção ao Conselho (grupo de pastores e presbíteros que administram uma igreja) e, durante três anos, é acompanhado, observado e avaliado por esse grupo. Caso seja aprovado, é encaminhado ao Presbitério (reunião de pastores de uma região e seu respectivo presbítero) para nova avaliação.
Daí passa por exames médicos e psicológicos antes de ser encaminhado ao seminário. Lá, ele aprende grego e hebraico - línguas em que foram escritos, respectivamente, Novo e Velho Testamento -, estuda História, Filosofia e Teologia. Depois de quatro anos, adivinha? Não, ele ainda não é pastor. Como bacharel em Teologia, ele deve apresentar uma tese sobre um ponto teológico e uma exegese, um trabalho de análise de uma passagem da Bíblia, na língua original em que foi escrita. Depois disso, o bacharel torna-se licenciado.
Segundo o Reverendo Ageu Cirilo de Magalhães Júnior, diretor do Seminário Teológico Presbiteriano Reverendo José Manoel da Conceição [JMC], o processo de licenciatura pode durar até dois anos. "Neste período, o licenciado é encaminhado a um trabalho prático que será muito parecido com o pastorado em si. Nestes dois anos ele será observado no campo de atuação para que o Presbitério averigue se ele pode ser pastor mesmo. Ao final deste período ele retorna ao Presbitério", conta o Rev. Ageu. Só após a licenciatura, pode-se marcar a data da ordenação, ou seja, o dia em que torna-se pastor.
Mas e esse "Reverendo" ali em cima? O próprio Ageu responde: "Reverendo nada mais é que um pronome de tratamento. Assim como é respeitoso dirigir-se a um deputado com 'Vossa Excelência' é de bom tom tratar um pastor, ou líder religioso de forma geral, com o pronome 'Reverendo'. Todavia, poucas igrejas tem o costume de chamar seus pastores de Reverendos". Muitas igrejas chamam não só de pastor, mas também de bispo e apóstolo. É o caso da Igreja Apostólica Renascer em Cristo.
Diáconos, presbíteros, pastores, bispos e apóstolo
Na Igreja Presbiteriana também há diáconos e presbíteros. Porém, não há uma correlação entre um e outro. A função do diácono é a mesma tanto na Igreja Presbiteriana, como na Igreja Renascer: auxiliar nos serviços feitos dentro da igreja, como infraestrutura e logística. O diácono ajuda a preparar a ceia, recebe os visitantes, indica lugares vazios e dá informações aos fiéis. A diferença é de que na Renascer, para o membro chegar a ser pastor, ele deve primeiro passar pela diaconia e ter sido presbítero, nessa ordem. As duas igrejas são cristãs protestantes, mas com doutrinas diferentes. Esse é o detalhe que diferencia a maioria das igrejas protestantes entre si, como a Batista, Metodista, Quadrangular, Assembléia, Renascer, Universal e por aí vai. Não chegam a ser religiões diferentes, mas denominações diferenciadas, cada uma com sua doutrina, com relação ao batismo, ceia, casamentos e questões espirituais.
Mas voltemos ao princípio. Digamos que você seja membro da Renascer e tem atuado na igreja de forma significativa, auxiliando o andamento da comunidade. Sem cargo definido, pode ser convidado a ser diácono e oficializar o que já tem feito. Há quem goste de ficar no cargo e se identifique com ele, mas há quem desenvolva outras áreas de atuação, como o estudo da Bíblia e atividades que lidem mais com a espiritualidade das pessoas da comunidade. Originalmente, os presbíteros eram os anciãos das igrejas no início do cristianismo. Na Renascer, são como co-pastores, ou seja, líderes que estão se preparando para o passo seguinte, ser o pastor que lidera uma igreja local. Depois vem o bispo e, por fim, o apóstolo.
O bispo tem as mesmas funções que os pastores, mas também trabalha na parte administrativa da comunidade. O Bispo Kléber Eduardo Falconi explica que também faz parte do trabalho ser pastor de pastores. Além disso, por ser bispo, é o responsável por várias igrejas dentro de uma região.
O processo para se tornar um pastor ou bispo não é mais fácil do que na presbiteriana. O interessado também passa por uma espécie de seminário, chamado Curso Escola de Profetas, na qual o Bp. Kléber é professor e instrui os que aspiram ao pastorado. Apesar do nome 'profeta', não existe essa nomenclatura para líderes da Renascer. O grau máximo de hierarquia na igreja é o de apóstolo, no caso, o do Apóstolo Estevão Hernandes. O Bp. Kléber explica porque Hernandes é o único a ter esse título. "Na verdade, não é algo premeditado. A nomeação de um apóstolo acontece mais pela necessidade que vemos dele atuar, naquele contexto. O apóstolo não prega a Renascer ou qualquer outra igreja, mas apenas Jesus Cristo".
Pastores? Apóstolo? Padre?
A Igreja Presbiteriana do Brasil não aceita o nome 'apóstolo' como denominação porque, para eles, o apóstolo é quem andou com Jesus e viu a ressurreição de Cristo. Apenas o apóstolo Paulo (ou São Paulo, para os católicos) que foi instituído com esse nome. A Bíblia conta que Paulo foi abordado por Jesus, que já havia ressuscitado, e o chamou para ser seu discípulo. Por isso, ele foi considerado um dos apóstolos, pois foi instruído pelo próprio Jesus. Mas a Renascer não vê problema em nomear alguém como apóstolo, baseando-se também na Bíblia, em que Barnabé, outro cristão, teria sido enviado para pregar aos que não conheciam a Cristo.
Assim acredita também o Padre Marcelo Jordan Vaz da Silva. A Igreja Católica considera que os primeiros padres foram os próprios apóstolos. Só depois surgiram os padres propriamente ditos, a partir de São Justino. Padre, do latim Pater, significa 'pai', na concepção religiosa da palavra. Para o padre, a vocação para o ministério já nasce com a pessoa e ela apenas se desenvolve ao longo dos anos.
Assim aconteceu com ele que era coroinha e ajudava o padre local a realizar missas na cidade de Curvelo, Minas Gerais. Um privilégio para a região, já que há lugares no Brasil em que o padre marca apenas um dia do ano para realizar todos os ofícios de uma só vez. Nas populações ribeirinhas, no Amazonas, casamento, batismo, ceia, missa e o que mais tiver são marcados no mesmo dia e oficializados pelo padre, que vai lá uma vez ao ano.
Em São Paulo a história é diferente. Na paróquia Nossa Senhora de Lurdes, na Pompéia, onde o Pe. Marcelo é pároco, há missa todos os dias. A folga dele é na quarta-feira, dia em que um padre convidado celebra a missa. "O ideal seria que o católico fosse à igreja todos os dias, mas sabemos que não é possível", conta. Sobre o chamado para o sacerdócio, ele diz orgulhoso: "Para ser padre, a vida sacerdotal passa primeiro pelo coração da mãe do candidato, assim como aconteceu com Santa Mônica, mãe de Santo Agostinho, e assim foi comigo".
Algumas denominações fazem uso dos nomes para validarem suas posições na hierarquia. Dessas diversas comunidades, não há uma igreja que centralize ou defina regras para todas as demais, como acontece com a Igreja Católica. Cada igreja utiliza o termo que acha melhor. Pastor, padre, presbítero, bispo, apóstolo, profeta, gideão ou o que for. Ao me despedir do Pe. Marcelo, sem querer soltei um "Obrigado, pastor". Peço desculpas e explico que conversei muito com pastores e confundi. Ele diz que não tem problema, já que é a mesma coisa, só muda o nome. A mesma coisa, aliás, foi o que disseram o padre e o pastor presbiteriano: "Deus te abençoe, meu filho, a sua profissão e a sua família". Obrigado, pastor. E padre.
Pesquisa realizada por Gabriel Louback, especial para o Yahoo! Brasil
Postado por: Manuel Raposo