Nas minhas singelas observações, mas creio que profundas (pelo menos eu considero), chego a conclusão que preciso de ajuda, ou melhor, nós precisamos ajudar um ao outro a reescrever a nossa história em nossa geração. Nosso país é uma nação especial, e essa especialidade do nosso país constrói em nós, no mínimo, um coração grato. Rendemos ações de graças a Deus por este pedaço do planeta chamado Brasil. Um lugar cheio de beleza, amenidade e diversidade do clima, fertilidade da terra, ausência de fenômenos naturais destruidores;
Os cristãos de hoje, têm uma delicada forma de como entender sua missão numa sociedade que, de acordo com sua trajetória histórica, vem passando por difíceis eventos e processos que têm deixado marcas negativas muito fortes. Marcas essas, que têm determinado o destino de muitos povos e suas conseqüentes leis e ordens nacionais. A expansão do cristianismo tem sido uma das maiores marcas da história moderna. A partir do século XIX, a fé cristã alcançou mais excepcional difusão, como em qualquer outro período da história (embora alguns historiadores afirmam que o período de maior êxito na propagação do Evangelho, foi o período de atuação da igreja primitiva). Houveram figuras notáveis, como William Carey (1761-1864), David Livingstone (1813-1873) e James Hudson Taylor (1832-1905), que defenderam e serviram a organizações com propósitos missionários. Homens que viveram uma espécie de fé prática em relação à obra de um Evangelho que podemos chamar de, Evangelho Integral, que se resume em olhar para o ser humano de forma completa: espírito, alma e corpo (I Ts 5:23). Homens que levaram o Evangelho a terras distantes e aprenderam a amar os seres humanos, influenciando as sociedades de então. Ensinaram as pessoas a serem pessoas de fato; facilitaram a construção de escolas; ajudaram a formar uma cultura de trabalho como conquista de dignidade às famílias e, obviamente, formaram agentes multiplicadores desse Evangelho integral, evitando pregar apenas no campo eclesial, da espiritualidade ou da religiosidade. Esses e outros nomes foram responsáveis por manter vivo o interesse pelas missões e espalhar a fé cristã em áreas distantes da Ásia, África, Oceania e América Latina. No Brasil, as raízes do protestantismo (ou, ao que chamamos hoje de segmento evangélico) são fixadas também nesse período. Nossa principal missão é fazer com que essa chama não se apague, pois foi uma instituição do próprio Jesus Cristo (Mt 28:19,20) quando nos comissionou. Os grandes nomes mencionados acima, fizeram a sua parte, embora não toda a tarefa, pois trabalharam na sua geração, o que significa que o que temos a fazer é o que nos cabe, em nossa geração.
Nessa tomada de consciência, creio, também, que a nossa maturidade espiritual requer uma atitude de gratidão pelos pioneiros da fé evangélica, que aqui aportaram para, com sacrifício, compartilhar o senhorio de Cristo, único Salvador, movidos pelo amor a Ele e a nós. Ao honrarmos a memória dos nossos predecessores na fé, devemos, também, nos apropriar da sua herança e nos edificarmos com as lições extraídas dos seus feitos em uma cadeia de continuidade e em uma correção de eventuais equívocos, pois, se não conhecermos quem somos não sabemos quem somos e, muito dificilmente o que seremos. Sem história não há identidade. Sem passado não há futuro.
A partir dessa constatação creio que uma questão incômoda ronda as mentes desta geração: somos continuadores dos pioneiros ou somos anunciadores de um “outro evangelho”? A nossa teologia honra ou desonra os mártires do passado? Somos atualizadores de um legado ou somos portadores de uma amnésia espiritual? Que conhecemos do passado para sermos continuadores desta obra? Não seria o grande pecado e fraqueza desta geração justamente a ignorância dessa história como Igreja, e Igreja no Brasil?
A gratidão aos pioneiros da fé nos conduz, além da já descrita no primeiro parágrafo, em relação a este pedaço do planeta chamado Brasil, a Deus, por nossa unidade nacional, sob um só Estado e um só idioma, na rica diversidade das nossas regionalidades; gratidão a Deus, pela liberdade que temos por cultuá-Lo e serví-Lo, pela comunhão que, em tese, devemos ter uns com os outros, e pela permanência da alegria, quando tantas pessoas não sabem mais sorrir. Devemos nos sentir estimulados à prática de um Evengelho Integral. Não seria isso que Deus espera de nossa fé cristã?
Agente Público e Bacharelando em Teologia pela Universidade Metodista de São Paulo - UMESP