1ª Série

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

PROSPERIDADE: TEOLOGIA x VISÃO

O Que Devemos Evitar e o Que Devemos Praticar


INTRODUÇÃO
Alguns assuntos são por demais polêmicos, ou assim se tornam com o tempo, por não se ter uma forma unificada de pensamento, nem uma pontualidade entre o crer e o praticar. A prosperidade é um desses temas polêmicos, ou melhor, tem se tornado assim, em função da complexidade da vida diária, principalmente, dos ocidentais. Percebo que nos países capitalistas esse assunto é mais cuidadosamente tratado do que em outros regimes, embora, o sentimento e vontade, não se diferem em todo o mundo e em toda a história da humanidade. Aliás, só chegou a se pensar o capitalismo e em outros sistemas econômicos, pela necessidade do ser humano de passar bem longe de aflições e privações de suas necessidades e confortos. Se o capitalismo é bom para o ser humano ou não, é um assunto que podemos tratar em um outro momento. O fato é que todos buscam a prosperidade em tudo o que faz. Se não fosse assim, se quer começaria a fazer.
De tantos significados do termo “prosperidade”, podemos entender em suma que pode significar “conquista”. Ao que quer prosperar, é necessário conquistar, pois a prova e o resultado da conquista é a prosperidade.
“Ao que quer prosperar, é necessário conquistar”.Permita-me expor aqui rapidamente minhas singelas observações a respeito desse tema, analisando mais especificamente em torno do assunto das conquistas terrenas, seja no campo das melhorias econômicas de pessoas ou de instituições; seja nas melhorias sociais. A despeito disso, as melhorias econômicas funcionam como alavanca mestra do impulso, num ambiente capitalista como o nosso.
E, tudo isso, em suma, gera transformações aceleradas numa sociedade que pressiona a todos em busca do crescimento.
Nosso cuidado, no entanto, enquanto cristãos, é quanto à diferença entre, o que vem ser a chamada e praticada conscientemente por muitos, de teologia da prosperidade (TP), e a visão da prosperidade (VP). Em que elas se diferem? Quais os métodos utilizados para sua prática? Elas são bíblicas, ou são apenas manipulações usadas por pregadores que tem como deus o seu próprio “...ventre...”, conf. Filipenses 3:19?
Talvez descobrir a distinção entre as duas, nos ajudará em novas percepções sobre esse assunto.

A Teologia da Prosperidade
Não sou um “expert” no assunto, porém o que tenho observado (talvez não mais do que você), já nos ajudará a precisar posicionamentos, baseados não somente em nossas observações, mas também no estudo bíblico em relação a essa teologia.
A teologia da prosperidade nunca foi pesquisada e estudada sistematicamente, pelo simples motivo de não haver fontes confiáveis de pesquisas, teológicas e/ou científicas para fundamentar o tema. A pregação foi baseada, principalmente num pragmatismo sofrido e buscado pelos pregadores, como uma ferramenta de auto-ajuda, especialmente nos países emergentes do ocidente, entre os quais, o Brasil se inclui.
A meu ver, a teologia da prosperidade, manifesta o medo e insegurança daqueles que dão mais valor às coisas terrenas, do que um apoio para conquistar. Pois a segurança deles está no possuir. Os pregadores da TP levam as pessoas a se sentirem seguras diante do montante conquistado. O perigo está quando a pessoa não consegue prosperar. Isso vai gerar dúvida no pensamento da pessoa no seguinte: Até onde Deus está lhe ouvindo ou não? Ou, até que ponto sua fé é verdadeira? Dúvidas como essas, ocorrem pelo entendimento de que quanto mais bens a pessoa possuir, mais perto está de Deus, e o contrário é verdadeiro. Ou seja, Deus está diretamente ligado ao volume de bens conquistados. “Se eu prosperar, Deus está comigo, se não, Ele não está”, afirmam elas. Para a TP, o crente deve morar em mansões, ter carros do último tipo, contas bancárias abastadas e nunca ficar doente. Quando isso não acontece, é porque ele está sem fé, em pecado ou debaixo do poder de Satanás.

A Visão da Prosperidade
Existe essa tal visão?
Talvez seja essa a primeira pergunta a fazermos, antes de meditar sobre o assunto. A segunda seria: Essa visão é bíblica?
Creio que a resposta para a primeira pergunta é “sim”. Bom, diante dessa afirmação, devemos então, estudá-la para evitar quaisquer confusões.
Quando da criação do ser humano, Deus o deixou plenamente abastecido e suprido em todas as coisas. Deus o visitava todos os dias. Na criação do homem e de todas as coisas, Deus não condicionou a sua presença, perante a criatura, aos bens que o ser humano possuía. Quando o Senhor os colocou no jardim do Éden, as coisas criadas (os bens) para o homem desfrutar já estavam lá. O problema é que as pessoas correm desenfreadamente em busca de bens materiais e se esquecem que é Deus quem os dá. Quando fazemos um tour no Éden, é-nos apresentada a terra de Havilá ás margens do primeiro rio que era o “Pison”. A terra produzia ouro, bdélio e pedra de ônix. Sobre o ouro, dispensa-se falar, pois todos têm conhecimento do grande valor deste metal nobre; o bdélio, é uma resina transparente, macia e cheirosa, além de muito valorizada; a pedra de ônix, é uma espécie de mármore de alta resistência e altíssimo valor. Eram os minerais mais valorizados e raros até então descobertos pelo homem. Por aí nós vemos que Deus havia provido abundantes tesouros e riquezas em Seu jardim. O homem não precisou correr, correr e correr para construir e possuir esses tesouros. Quando Deus o colocou lá, eles já estavam. Deus é quem dá, provê e abençoa, conforme a Sua soberana vontade. O desejo de Deus é que o homem tivesse vida abundante. É assim que Ele faz, com o propósito da partilha, da ajuda mútua, da comunidade. Não do egoísmo, ganância, acúmulo, soberba, ostentação, etc.

A TP e a VP Não Devem Ser Confundidas

Embora, teoricamente, deve-se evitar a confusão entre a teologia e a visão. Conhecemos alguns que, ainda sem intenção, se confundem. O caso mais comum é de uma pessoa que não seja diretamente adepto da TP, ser portador de características dela. Essa pessoa pode até pregar contra a TP, mas suas atitudes demonstram o contrário. Pode ser involuntário, mas é praticado. Um exemplo disso é, quando a pessoa tem dificuldades em compartilhar ou, em sacrificar-se, para atender o necessitado. Malaquias 1:7,8 nos ensina algo interessante sobre o assunto que, apesar da narrativa se referir diretamente a Deus, podemos seguramente utilizar esse princípio para todos os casos de doações. No texto, os sacerdotes eram culpados de dar a Deus apenas as sobras no lugar das primícias e o melhor como a lei requeria (Lv 22:22). Ninguém se atrevia a dar um animal enfermo ou indigno a um governante. Porém era justamente o que os judeus estavam oferecendo a Deus. Ninguém deve oferecer uma oferta ou doação estragados a alguém, que seja impossível a utilização.

Nosso maior cuidado, portanto, deve ser o de evitar a visão (VP), por preconceito ou medo da teologia (TP). Pois, o problema não está na prosperidade, mas na teologia.

Principais Diferenças Entre a TP e a VP
A lista de comparações abaixo não é exaustiva:

TP aprisiona no pensamento do ter para acumular / VP descobre o ter para partilhar
TP promove o egocentrismo / VP promove misericórdia ao necessitado
TP olha para suas conquistas e admira o que conseguiu / VP olha para o céu (em gratidão) quando
vê que conseguiu
TP olha para o mundo (coisas) /VP olha para o mundo (pessoas)
TP critica ao que não tem / VP ora pelo que ainda não tem
TP admira a tecnologia e a sofisticação / VP admira a inteligência do homem dada por Deus
TP usa os bens para seu próprio conforto / VP usa os bens para acelerar a obra de Deus
TP usa o ter para desfrutar / VP usa o ter para se equipar para o trabalho e transformar a sociedade
TP conquista outros para ela / VP conquista outros para encher o céu
TP Corre para alcançar os bens materiais / VP Busca o Reino de Deus e as bênçãos os alcança.
TP Dá o dízimo e/ou oferta para ser abençoado / VP Dá o dízimo e/ou oferta para investir no Reino de Deus.
Diante do exposto até agora, o que você acha que Deus tem para os seres humanos: a Teologia da Prosperidade ou a Visão da Prosperidade?

Autor: Manuel Raposo
Bacharelando em Teologia pela Universidade Metodista de São Paulo
As opiniões do autor não expressam, necessariamente, as opiniões de outros autores ou Universidades.